terça-feira, 22 de abril de 2025

Crítica - PAIXÃO DE CRISTO DO RECIFE - Perdoai-lhes...


HANS VON MANTEUFFEL/DIVULGAÇÃO

Após anos e anos da tradicional PAIXAO DE CRISTO DO RECIFE, ate 2018 ainda comandada por José Pimentel, onde, vale ressaltar, vivia-se no Recife um período de profunda admiração, tanto ao profissional José Pimentel, quanto a tradicionalidade que o espetáculo trazia, transportando a plateia para uma viagem mais que necessária, onde neste caso, é fundamental para uma vivencia completa, para uma sensação de pertencimento, a paixão se reinventou nos anos seguintes, já foi ate transformada em filme, já mudou de nome por questões envolvendo a justiça, no que se refere aos direitos cobrados pela filha de Pimentel, e agora parece estar criando NOVAS raízes, e se instalando de vez, no solo tradicional da cidade, a praça do Marco Zero. 

Ontem, 21 de abril, feriado de Tiradentes, juntei uns amigos e enfim pude verificar a NOVA fase da paixão de cristo do recife, e a medida que ia me aproximando das cadeiras a sensação de vazio tomava a alma, quanto mais me aproximava do publico, mais angustiado ficava com tão pouca energia naquele lugar, e então, quando fixo os pés no solo, outrora sagrado, e volto as atenções para o palco, imediatamente compreendo o porque das boas energias não estarem ali. Tudo encontrava-se morno, a sensação era de tomar um café frio com um pastel insosso, nada irradiava, nem mesmo a tentativa de grandes atores de se multiplicarem em cena, nada poderia ser feito, estava consumado.

Buscarei ser mais preciso: Na tentativa de correlacionar a atualidade dos ensinamentos de jesus a aspectos contemporâneos, misturar o antigo aspecto visual com elementos físicos da atualidade, trouxe ao mais tradicional expectador a sensação de... Cadê? Onde esta? Porque?... e ao mais questionador o sentimento que, mesmo compreendendo a tentativa de relação dos ensinamentos bíblicos como algo marcante entre todas as gerações, o sentimento real é de que algo de muito importante esta ausente, não esta ali, e SIM, deveria estar.

As paixões de cristo sempre contam a mesma historia, e são um grande sucesso exatamente porque o expectador sempre procura assistir todo ano e gosta de ser transportado, levado, envolvido e introduzido numa época que de fato exigem elementos daquela época, e é necessário entender isso. Em termos mais claros, deve-se respeitar os elementos históricos, a exemplo do enforcamento de judas, que na citada paixão foi envolvido numa corda e levado pelo satanás a uma espécie de buraco profundo que tem como consequência a descaracterização do acontecimento tradicional, que seria enforcado, pendurado numa arvore.

Sonoplastia insuficiente, alguns bons atores aprisionados num contexto frio, sem troca com o público, iluminação fez o que pode ser feito, sem exageros. A direção do espetáculo é do experiente Carlos Carvalho, que ousou em uma tentativa de encenação que realmente não agradou.

É correto relacionar essas tentativas a realidade do cenário artístico em Pernambuco, como falta de apoio, incentivo, editais que realmente funcionem??? Nesse caso especifico, NÃO! O que pode ter ocorrido então? Um equivoco, um momento de decisões que não desabonam em nada a carreira de quem quer que seja, mas que se torna necessário reconhecer.

Sobre o cuidado com o todo, não parece ter sido uma montagem tranquila, organizada, detalhada, pois alguns aspectos causaram muita estranheza, como o segundo Jesus aparecendo, ainda com o outro em cena, se arrumando antes de ressuscitar e tirando selfie logo após ter subido para eternidade.

Pai, perdoai-lhes, mas eles sabem o que fazem.


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